domingo, 9 de outubro de 2011

Ressalvas a respeito do livro A linguagem das emoções (Paul Ekman)


Estaria o autor, em seu livro, tentanto elaborar uma receita a qual permita que os sujeitos aprendam a se emocionar conforme padrões que Paul julga ser o mais adequado a se demostrar socialmente?
Diz Paul: “No capítulo 3, explico como e quando podemos mudar o que nos deixa emocionados”. Ainda que a frase mencionada possa ser resultado de um trecho do livro mal traduzido para o português, como acreditar que podemos mudar os fatos que nos emocionaram/emocionam?  Não temos esse poder. Como alterar a morte de um ente querido?
A maneira como demonstramos estar emocionados é no que talvez (sob longos momentos de treino) podemos interferir ou disfarçar; porque acredito que mesmo um novo modo de se expressar  exteriorizado diante do receptor pode (por nós) continuar sendo sentido internamente com a mesma intensidade.
Logo em seguida, Paul  fala sobre a medição do comportamento facial. O que também sugere que o comportamento é um fenômeno ocorrido na face, quando na verdade, a face corresponderia analogamente a um vidro translúcido de onde se podem observar (por aproximação) e consequentemente interpretar estados comportamentais psíquicos. Acredita-se que, salvo reflexos, o corpo se comporta seguindo instruções cerebrais.
Em uma outra passagem de sua obra, o autor afirma que “As palavras são representações das emoções...” para ele, todos os caminhos são traçados sob a predominância das expressões faciais.  Será?
As palavras são códigos que muitas vezes traduzem (e não representam) nossas emoções erroneamente, uma vez que não existem palavras capazes de codificar com precisão todas as emoções que vivenciamos. Pessoas, às vezes, expressam-se sem saber o que querem dizer.
 Além do mais, as palavras quase não sofrem variações estruturais, ao passo que representações supõem exibição continuada, exposição. Assim, uma emoção é que pode representar (lembrar) uma palavra (como a representação facial da palavra medo) e não o contrário.
Emoções são automáticas? Talvez os mecanismos que as desencadeiam (como os autoavaliadores) sim, contudo, podemos nos emocionar voluntariamente, como fazem os atores.
Ekman diz que uma expressão falsa pode ser denunciada de várias maneiras, pois é assimétrica e carece de uniformidade, entretanto não fala de rostos assimétricos geneticamante ou que sofreram alterações acidentais ao logo do tempo. Ele fala ainda que “podemos sentir a emoção apropriada mas demonstrá-la de modo errado”.  Novamente ele parece se voltar para um padrão de comportamento emocional que deve ser seguido. Minha pergunta: “Uma emoção deve ser apropriada para quem? Para aquele que a sente ou para aquele que a vê manifestada na face alheia? Existirá mesmo  um modo errado de expressar uma emoção? Para quem uma emoção apropriada traria benefício? Para o que a sente na pele ou para quem ela é transmitida? Não acredito que existam emoções corretas ou erradas. Mal entendidos/ interpretados, sim.
Na página 43 ainda em A linguagem das emoções, Paul acrescenta: “O fato é que todas as pessoas aprendem as mesmas coisas e, portanto, são universais”.  Porém... os sujeitos aprendem a sua maneira, transformando o que aprenderam em algo individualizado. Não quero dizer com isso que muitas emoções não são universais, mas que foram construídas evolutivamente e moldadas em meio a singularidade de cada um. Como quando se compra uma roupa usada e posterirmente a mesma peça é personalizada pelo seu novo dono. A roupa é a mesma, sua marca é a mesma, mas a aparência do sujeito vestido tem um quê diferenciado que se adequa ao estilo do dono. Assim também são as emoções, cheias de detalhes diferentes.
O título escolhido para o capítulo 3 “Mudando o que nos emocionou”  pareceu-me violento, uma vez que não partilho da teoria que somos capazes de mudar aquilo que nos emocionou. Penso que podemos mudar o modo como sentimos uma emoção, sem necessariamente com isso poder haver um controle das emoções do sujeito por ele mesmo.
Na página 63 do mesmo livro, Paul relata que se “as experiências envolvem palavras, e não coação física...” ter-se-ia mais chances de enfraquecer o gatilho que dispara uma emoção ruim. As palavras, todavia, têm também a oportunidade de serem indeléveis. Diz um ditado popular que o bem que nos fazem é gravado na areia, enquanto o mal, no mármore, assim sendo, jamais esquecido. Logo, dependendo das palavras proferidas, elas podem ser bem mais traumatizantes do que o ato bruto em si.
A influência das pesqiuisas e teorias de Paul Ekman em todas as demais pesquisas do ramo é evidente. A luz por ele acesa na escuridão do campo da linguagem corporal, especialmente facial não será apagada ainda que um dia quem sabe, o oposto do que ele hoje prega seja tomado como a verdade.