sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Domínio

Ao longo das eras os “homens” sempre procuraram demarcar seus territórios. Faziam isso de várias maneiras. Marcar suas posses era necessário. Já pensou? Sair e quando retornar, não mais encontrar seus bens? porém, de que bens se está falando? Estes não se restringiam a cabanas, terras, ferramentas rupestres. As “fêmeas” também eram (ou porque não dizer, “já eram”) “demarcadas” por seus “machos”. Coisas do Neolítico?! Tempo bem mais que pretérito?! não. Hoje as tentativas de marcar fronteiras principiam das mais variadas e sutis maneiras; sendo preciso um olhar atento para observar como isso acontece entre os próprios seres humanos através de uma relação possessiva que não tem a mais tênue intenção de ser discreta.
Hão de concordar que os homens (e dessa vez não entre aspas; sexo masculino, mesmo.) sentem necessidade de serem mais que vistos pelas mulheres. Desejam ser notados com exclusividade sobre os outros homens que estejam por perto. Tudo parece ser uma chance de disputa indispensável para eles.
Nota-se, por exemplo, quando uma mulher está sentada ao lado de um homem, seja dentro de um ônibus, seja num banco da praça. Podem-se ver como alguns homens mantêm suas pernas afastadas uma da outra de modo a ampliarem o espaço onde se encontram localizados, o qual “pertence” a eles, “são deles”, pelo menos naquele momento. Neste enlace, tudo em que possam ao menos roçar levemente se achará no “território deles”. Assim, abrir bem as pernas quando estão sentados próximos a uma mulher indica não apenas uma supervalorização da virilidade masculina (como se seus órgãos genitais precisassem de mais espaço); é também uma tentativa de ampliar os domínios os quais julgam ser seus. Mas não encaremos apenas estas versões dos fatos. As assaduras - por exemplo - podem fazer com que um homem não apenas se sente com as pernas amplamente afastadas, como também podem andar afetadamente.
As necessidades masculinas de se aproximarem das mulheres vão além de um abrir e um abrir mais ainda de pernas. Note, por exemplo, como duas pessoas de sexo oposto e que não se conhecem ainda se portam quando estão lado a lado. Supondo-se que o interesse de iniciar qualquer contato que seja parta do lado masculino. Vê-se como isso pode se dar. Ele se espreguiça para que suas mãos, cotovelos “invadam” o espaço feminino, o que deve provocar o início de uma conversação já que pedir desculpas é um bom começo. Tais gestos que também contribuem para aumentar as dimensões torácicas, ainda que brevemente , dão a mulher talvez uma subida impressão de que ele é mais forte do que parece.
Para não dizerem que não abordei as investidas femininas... é fácil perceber quando uma mulher se dispõe, no exemplo acima, a acatar o flerte masculino. O cruzar de pernas feminino é o mais ingênuo denunciador dos interesses das mulheres para com os seus emissores, bem como receptores. Toda a literatura que trata da linguagem corporal insiste no tema. Existem mesmo “estudiosos” que dialogam com as mulheres observando atentamente para qual dos lados a mulher cruza as pernas durante um determinado assunto; como se apenas os pés apontados para “a minha direção” indicassem aceitação e receptividade feminina. É verdade que as pernas cruzadas podem indicar esses tipos de estados em ambos os sexos, contudo. Eu não me canso de alertar: Isso não é tudo o que se precisa observar! e em si tratando de observar os gestos femininos, é muito mais fácil se equivocar com tal leitura.
A vaidade de quase todas as mulheres tem alcançado tão largo crescimento no campo dos desejos atuais que grande parte delas, “lutam” com seus próprios corpos para que estes possam mostrar aos outros o que cada uma tem de melhor. Agulhas, massagens, cirurgias, exercícios dolorosos fazem parte da rotina feminina e quando não se consegue o corpo esculpidamente desejado, logo a própria postura feminil é levada a se modificar nos mais sutis detalhes.
Ainda há pouco, estive com uma amiga que reclamava dos transtornos que ela enfrentava com as estrias e celulites. Ela alegou que não usava mais decotes (por cauda de estrias nas regiões superiores dos seios) e, depois, percebi que ela apenas cruzava as pernas para o lado esquerdo, suportando terríveis câimbras. Fiquei sabendo por ela mesma o motivo: cruzando as pernas para este lado as celulites não apareciam. Dessa maneira, esta mulher apresentava uma postura que para muitos, “não concordava” com o seu jeito expansivo e amigo de estar aberta ao diálogo e as suas próprias mudanças de opinião. Provavelmente quem estivesse sentado a sua direita não teria logo de início (e se apenas se guiasse pela leitura de pernas e pés) a boa impressão inicial que os amigos tivemos dela quando a mesma ainda não era tão exigente com seu próprio corpo.
Assim, os corpos sofrem modificações, os desejos se intensificam, as ideias se angustiam, o cérebro envia comandos diferentes e os gestos, posturas, jeitos não apenas sofrem afetações como também passam a ser percebidos, na medida do provável, diferentemente daquilo que são.


quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Como estão os meus óculos?

Ainda na livraria...
Outro capítulo que despertou novos interesses em mim foi o uso de óculos e as sugestões que este uso suscita.
Segundo a autora, se você quiser ser mais respeitado como profissional sério, exigente e inteligente deve optar pelas armações finas e metálicas; as mais grossas e coloridas espelham em seu semblante mais alegria e despojamento diante da vida.
Recentemente ouvi notícias de pesquisas “por aí” que, caso apareça usando óculos em uma entrevista de emprego, você teria mais chances que outros candidatos desprovidos de óculos. A minha pergunta é: Em uma entrevista de emprego em que o sujeito é avaliado mediante um simples diálogo, caso lhe fosse perguntado: o que o faz querer trabalhar conosco? Sua resposta seria: -Vocês gostam de me ver de óculos; ou então: Em seu último emprego quais foram as suas realizações mais importantes: -Tirei e coloquei meus óculos com muita elegância e charme; ou mesmo: O que mais o irrita no ambiente de trabalho? -A mudança de humor que provoco nos colegas quando troco as armações dos meus óculos; e ainda: Por que você escolheu esta profissão? - Meus óculos combinam com o capacete e a trena.
A supervalorização de qualquer objeto atrapalha o candidato e o pesquisador. O tema escolhido pela autora não deixa de ser interessante, mas, parcimônia. O uso de objetos pode causar certas alterações em nossas colocações e nas impressões que outras pessoas venham a ter de nós. Por exemplo, podemos ficar mais receptivas na visão das pessoas com as quais conversamos. Concordo com a autora quando esta afirma que ao tirarmos os óculos podemos ser percebidos como mais receptivos e quando os pomos na face, intui-se que iniciaremos a falar de modo que ouçam. Pequenos gestos podem fazer toda a diferença. Contudo, pensemos naquelas pessoas com alto grau de miopia. Aquelas que até se esquecem de tirar os óculos para tomar banho! Mesmo não sendo tímidas, muitas delas podem ter dificuldades para falar, ouvir, tirando e recolocando os seus óculos. Não por isso devem ser tachadas como arrogantes. Outros se sentem nus sem seus óculos, tamanho é o costume; para estes os óculos já são parte indiferenciada de seu rosto. Portanto, cuidado redobrado ao tentar desvendar os segredos da relação óculos-sujeito. Volto ao tema com minhas especulações de análises.