quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Durmo como sou?

Do outro lado da cidade, uma boa invenção acidental, um cinema contíguo a uma livraria. Lá estando, procurando novidades na estante destinada ao estudo da alma, encontro um livro que fala da linguagem não-verbal. Escrito por uma mulher! Uma mulher sozinha! e suas referências bibliográficas. Quem sabe não encontro boas novidades. Abro o livro, folheio e logo ao sumário. Dois capítulos chamam minha atenção: o primeiro fala sobre o “nosso” modo de dormir. Na página em questão encontro figuras de pessoas dormindo e, num primeiro relance, estão em "interação" com seus cobertores...
Pessoas deitadas de lado, costas voltadas para a cama, bruços, soerguidas em seus travesseiros. E tudo – separadamente - revela uma postura admitida pelo dorminhoco. Segundo a autora, o sujeito que se encontra de bruços com o cobertor até o pescoço ou além, inseguro, quase medroso. O que dorme com as costas voltadas para a cama e meio desencoberto, revela-se em sua segurança, é audaz, ousado em suas propostas. O que se apóia em travesseiros a fim de manter sua cabeça alta, costuma ser muito racional, mente plena de atividades inteligentes as quais não conseguem cessar. E, vejam só! “Achei-me” num dos dorminhocos: dormir sem travesseiro, sujeito decidido, organizado. O que me permitiu concluir antes de ler: não precisa de apoio. Por que será que me sobreveio o óbvio?!
Acho que não tenho sorte para escolher capítulos. Deve ser isso.
Minha mãe sempre dizia: “Deve-se colocar a criança para dormir de lado, porque se deixá-la de barriga para cima, ela terá pesadelos à noite toda”. Não existem hipóteses que comprovem a tese da minha mãe, mas ainda hoje, quando ouso corajosamente adormecer com as costas rente a cama, (“Assim é melhor para coluna”, como dizem os médicos) iniciam-se meus pesadelos. Tem isso uma relação direita com o que minha mãe ratifica? É provável. Contudo, não encaro isso como um condicionamento imposto pela minha mãe. Que espécie de filha seria eu? Vejo como uma sugestão quase hipnótica alçada pela cultura de uma época aliada ao zelo materno. Não sou contrária em tudo ao inatismo. Antecipo de antemão que nem tudo foi adquirido, porém, não creio que o sujeito nasça, rico em sua individualidade, programado para dormir assim.
Não estou alegando que isso foi sugerido pela autora em foco, mas também não foi negado, sequer esclarecido. Por quê? Quer dizer que caímos na cama e inconscientemente nos viramos para o lado de como somos? Se ao menos fosse citada a possibilidade de virarmos para o lado de como estamos... quem sabe eu procurasse entender a intenção dela.



(...)

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A mentira também é construção social!

Isso se parece com uma daquelas estratégias utilizadas por advogados para livrar o réu que acabou de cair em contradição. “Meu cliente não mentiu, Meritíssimo, ele foi levado a mentir!”.
Será que não existe um quê de lógica nesse título?
Muitos “decodificadores” da linguagem corporal, principalmente aqueles que depois de lerem o “Manual do código gestual”, põem-se a “desmascarar” os mentirosos; fazem isso praticando aqui e ali a visualização dos indicadores de mentira (dos gestos que provavelmente revelam o sujeito quando este mentiu, mente ou mentirá na próxima frase a ser dita).
Tantas palavras estão entre aspas para ressaltar o processo mecanicista por meio do qual andam julgando muitas de nossas condutas. Fazem isso como se consultassem um dicionário que contém todos os gestos possíveis e seus respectivos significados quase sempre negativos.
É o que muitos projetos de autores vêm citando...
Para reforçar que o mentir não é um ato isolado que envolve tão somente funções motoras, basta pensarmos no “nascimento da mentira” que cresce educada consoante os parâmetros da construção social de cada cultura.
Em pequenas cidades do interior, uma mentira pode surgir através de uma estória... De tanto ouvir seu pai, o filho do mentiroso cresce achando que são verdades todos os relatos contados por seu pai. O filho pode seguir achando que fazia parte das estórias as quais nunca aconteceram de fato.
Uma pessoa suficientemente autoconfiante pode elaborar uma mentira tendo consciência da mesma e, de tanto mentir repetidas vezes, termina acreditando em sua própria versão fantasiosa (em se tratando de mentiras brancas).
Mesmo um sonho pode fazer com que o sonhador acredite em algo que, de repente, nunca chegou a acontecer. Mas qual será o nome do pregador de peças capaz de enganar o próprio mentiroso? Aplausos para a senhora Memória e suas faces.
Para se falar de memória não se pode deixar de indicar a Dr. Elisabeth F. Loftus que desenvolveu estudos sobre a falsa memória, isto é, lembranças que são tomadas para si como algo real, acontecido, mas que em realidade nunca aconteceu.
A falsa memória está associada ao ouvir dizer, à sugestionabilidade e, supostamente, a muitos outros fatores.
Alguns pesquisadores diferem a falsa memória da auto-implantação de memória, esta auto-implantação se basearia no entendimento diferenciado do original que é tomado pelo sujeito por este ter ouvido mal um relato ou confundido este com outro relato de um outro emissor com quem também se conversava simultaneamente. Há quem prefira chamar de memória errônea esse tipo de memória, mas quem pode se indagar do que seja uma memória certa ou errada? Não seria este mais um costume infeliz do meio cientifico de querer sempre escolher um padrão e tomá-lo como referencial?!
A memória é a “retenção, recordação de experiências”, agora o fato dessas experiências terem ocorrido ou serem confundidas com outras, não priva a memória de seus direitos autorais.
É certo que, se nem nós, os “donos” de nossas memórias, podemos confiar em nossas lembranças, o que se pode dizer daqueles que precisam nos ouvir para, a partir do discurso vinculado aos nossos gestos e posturas, deduzir que estamos mentindo ou não?!!
Não raro nos enganamos com nossas recordações, galgamos memórias após o acontecido e ficamos vulneráveis às sugestões alheias capazes de preencher as lacunas da memória de um evento.
Estudiosos apontam que a memória não guarda todos os detalhes de um fato ocorrido, mas somente trechos dele, sendo o restante entendido como o que deve ter acontecido.
Eu, por exemplo, ainda hoje, juro que me lembro de acontecimentos de minha vida quando ainda era um bebê tentando aprender a deixar de engatinhar e me apoiar nas paredes do corredor. Parece que ainda posso ver os detalhes do bordado de meu macacão vermelho estampado. Porém, nada disso pode ser verdade. Posso simplesmente ter ouvido essa estória contada pelos meus familiares e ter projetado esse trecho em meu passado em forma de “memória visual”.
Questiono outros pesquisadores quando alegam que para um acontecimento ficar guardado a longo prazo, o sujeito precisa ensaiá-lo, ou seja, falar sobre ele. Mas isso não explica como um evento dito traumático fica retido na memória mesmo sendo um nunca dito pelo memorizador.
Chegamos até a memória reprimida que fica retida no inconsciente ou não podendo afetar nossos pensamentos e ações ainda que provavelmente se tenha esquecido da experiência em questão.
Pesquisadores da linguagem corporal pecam por reducionismo ao “vigiar” apenas a fachada do sujeito observado. Analisam sofregamente cada mudança ocorrida nas estruturas faciais do sujeito e até mesmo a mudança de direção do globo ocular, o que pode ser perigoso, pois podem se esquecer de que as intenções do sujeito surgem de dentro para fora (precisamos redizer para sempre o evidente) e não o contrário. Essa direção é mais importante do que a direção dos olhos do emissor.
Um desvio abrupto de olhar na direção contrária a do ouvinte, não quer dizer necessariamente que o emissor mentiu ainda que o contexto seja favorável a essa afirmação. O mesmo desvio súbito de olhar pode sugerir também que o sujeito não quer falar (verdade ou mentira) sobre esse ponto do acontecido, por este ponto ser vergonhoso, imoral, traumático ou causar-lhe apenas timidez passageira.
Não é minha intenção psicologizar todas as ações e intenções humanas. Sei o quanto seria trabalhoso, além de cansativo para um pesquisador, levantar muitas hipóteses sobre o observado e tentar “amarrá-las” depois. Contudo, os cientistas seriam mais humanos se se contivessem ao considerar as pessoas como escravas de seus próprios hemisférios cerebrais que, como imãs de forças opostas controlassem nossos corpos desse e daquele outro jeito.
Sei do valor do estudo científico e o quanto ele tem esclarecido. Sei também que isso é crucial para um investigador diante de um criminoso.
Mas será que a mesma técnica deve ser empregada com igual rigor numa conversa com uma amiga que saboreia o chá matinal?
Creio que não haja essa necessidade.
A memória x ou y não nos livra da intenção de mentir ou ocultar um fato, mas pode ser que não nos condene sozinhos, pois sugeridos por terceiros ou não, ainda temos parte nisso.


terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Controvérsias corporais


Alguns autores se atentam em demasiado para movimentos instáveis do corpo humano. Dizem que a forma como uma pessoa caminha “representará um traço estável de sua personalidade”. (Casal Pease). Mas como apontar todo um traço por meio de um andar? Isso seria admitir que esse mesmo sujeito que anda, caminha desta mesma forma sempre. Esse pode parecer um detalhe bobo, mas não o é. Um sujeito cansado pode estar andando devagar e ter os ombros caídos, o que não quer dizer que ele não preza pela objetividade em suas aspirações, pois seu cansaço é efêmero; já um sujeito com medo pode caminhar velozmente, contudo, isso não significa que este seja o andar habitual dele, então por que entendê-lo como um sujeito vigoroso e ávido por conquistas?
Quando não se atenta aos detalhes que a linguagem corporal do outro pode nos oferecer, tornamo-nos incapazes de contextualizar nossas observações e erramos em nossas interpretações.
Mesmo quando se observa bem, podemos incorrer em erros assombrosos. A personalidade de outra pessoa não se revela aos nossos olhos e não se revelará jamais em sua totalidade, podemos descobrir sim, traços de seus comportamentos, as inclinações as quais estão sujeitas suas condutas, mas nunca (e muito menos num relancear de olhos) aspectos holísticos de sua integridade psíquica.
Em muitos casos serão necessárias horas e até mesmos dias de observação meticulosa e – uma importante colocação – longe dos olhos do observado, pois este pode alterar involuntariamente ou não sua deambulação. Descrição é fundamental... Quando se observa aparentemente de maneira distraída é muito mais provável descobrirmos detalhes no emissor que não seriam revelados por ele mediante uma observação afetada (olhos petrificados em cima da outra pessoa).
De volta a minha frase inicial dessa postagem, sinto que não há nada que seja estável em nossa personalidade, em nossos modos de gesticular, andar, movimentar-se enfim, pois estamos a cada dia vivendo uma nova experiência e passando por novas situações e emoções distintas. Nenhum ser humano dorme do mesmo jeito que acorda... a nossa própria estrutura orgânica reage de mil maneiras diferentes (e isso não é um exemplo hiperbólico). As contrações do coração sofrem constantes variações, diante de emoções variadas ou não.
Os músculos reagem mesmo que não tenhamos consciência disso; executamos movimentos peristálticos que independem de nosso controle constante, enquanto realizamos muitas outras atividades simultaneamente. Pois bem, nada é estável na constituição humana e isso acontece primordialmente porque estamos sempre sofrendo evolução. (por mais inacreditável que essa sentença pode parecer, os acomodados também se incluem nela).

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A mentira através da linguagem corporal

Não acredito que existam especialistas capazes de detectar a mentira. Essa é sem dúvidas uma frase ousada, mas calma, explico:
Para dizer que alguém está mentindo, é preciso que se esclareça o que é a verdade; de que se trata a mentira; se a verdade existe mesmo em substância e essência; se verdade e mentira podem “coexistir” numa mesma afirmação/expressão etc.
Eu não creio que a mentira possa ser “destilada” da verdade e vice-versa. Pensemos por exemplo nas mentiras brancas, isto é, aquelas contadas sem a intenção de causar danos prejudiciais a si mesmo e/ou ao outro. São aquelas mentiras diárias que se contam para não provocar o caos no mundo. Como, por exemplo, dizer ao cabeleireiro depressivo que seu corte ficou bom quando na verdade você detestou. Mas faz isso para não perder o amigo e conseqüentemente o desconto que ele oferece em seu salão. Esta não precisa ser considerada uma mentira no sentido lato do termo.
Segue uma das definições que mais respeito de Derrida em Estória da mentira. Diz ele que mentir seria “dirigir a outrem (pois não se mente senão ao outro) um ou mais de um enunciado cujo mentiroso sabe, em consciência explícita, temática, atual que eles formam asserções total ou parcialmente falsas”.
De fato para mentir, geralmente existe intenção de enganar, ainda que seja um engano brando e inócuo. (volto ao tema quanto ao auto-engano).
Faz-se mister que o sujeito que mente saiba que verdade ele precisa esconder para, diante disso, ou extirpar esta verdade e criar uma mentira, ou deformar essa verdade transformando-a numa mentira. Assim, é quase um mérito estóico demarcar os limites que separam a verdade da mentira.
Como quase todos os sites que citam os traços de afetação os quais fazem o sujeito se entregar e as suas mentiras, também citarei alguns, porém, não com o intento de passar a falar sobre o tema partindo do meio e não da origem da questão.


Problemas...

Antes de tudo preciso esclarecer... Muitas vezes não somos donos de nossos próprios corpos e nunca dos corpos dos outros. Cuidado com autores que pregam a leitura corporal como meio de entendimento perfeito das intenções alheias. Pode-se descobrir muito acerca da postura, gestos e trejeitos de sujeito, mas não com 100% de assertividade. O problema em achar que se é um bom conhecedor da linguagem corporal é cair no erro de acreditar que se é senhor dos pensamentos dos outros. Que este ou aquele gesto significa isso e (ponto). Não é assim que a linguagem corporal deve ser analisada. É justamente o que andam fazendo da linguagem corporal - no Brasil especialmente - que me faz tomar uma posição.
Caso pesquisem sobre linguagem corporal nos sites de busca, encontrarão muitos artigos e até livros, uns bons, outros medíocres e muitos totalmente errados.
Cuidado; desconfie dos Xamãs da Linguagem corporal. Muitos não fazem o que dizem fazer, sequer conseguem ler algo na fisionomia de outrem e, aqui deixo um conselho de amiga: copiar e colar sem referências bibliográficas é crime, é abusar da boa fé de outras pessoas e menoscabar de autores genuínos.
Outra questão: usar das facetas produzidas por determinada linguagem corporal também é igualmente danoso. Principalmente se se quer conquistar romanticamente outra pessoa. Não se deve manipular o indivíduo em benefício próprio ainda que isso traga luz às pesquisas científicas. Falando nisso, Pesquisas devem ser feitas de modo rigoroso, mensurável, de acordo com o que pede a Ciência empírica, por meio de dados verossímeis e não deixando uma enquete online para qualquer um mentir o que pensa... Qualquer pessoa que esteja cursando uma graduação razoável sabe disso.

É com muita indignação que resolvi criar meu próprio Blog.