quarta-feira, 9 de março de 2011

Gesto

-O que pode ser considerado um gesto?
-Será que é necessária a presença da movimentação (ainda que não observada à vista desarmada) de alguma parte do nosso corpo para que o gesto “aconteça”?
-Qual poderia ser eleita a parte do corpo humano responsável pelo maior número de gesticulação?

Um gesto pode se dar de modos bem diversos.
Não raro, quando se pensa em um gesto, tem-se em mente a realização visível de um movimento.
Um aperto de mão, um abraço, um sinal de assentimento verificado pelo balançar de uma cabeça e tantas outras formas concatenadas a movimentação corpórea são sempre citadas por investigadores da linguagem corporal. Alguns autores ousados chegam a citar gestos mais discretos como os sorrisos, as variações desempenhadas pelo sobrolho, as mudanças na direção do olhar. Mas... e se se pudesse observar um sujeito o qual mantivesse todo o seu corpo imóvel, petrificado... poder-se-ia enxergar a presença de gestos nessa situação hipoteticamente absurda?
Grande parte dos dicionaristas afirma que os gestos envolvem a idéia de ação, ato, movimento. Entretanto, a nossa espécie se movimenta cada vez menos graças também a ociosidade que faz o indivíduo responder ao outro de modo cada vez mais conciso.
Um adolescente que brinca com seus jogos eletrônicos, por exemplo, pode responder àquilo que lhe é solicitado apenas com um levantamento de sua pálpebra esquerda ou com um ruído emitido pelo som do ensaio da fala. (quem disse que todo gesto é entendido enquanto resposta?).
Muitos de nós estamos nos movimentando menos, todavia, isso não quer dizer que os nossos corpos estão transmitindo menos informações. Eles transmitem o mesmo grau de informações aos outros sujeitos. No caso, “estou inerte”, “estou centrado em mim mesmo”, “estou muito distante”.
O pensador de Rodin, isto é, a escultura, transmite com perfeição tudo o que é necessário saber acerca da mesma. Mas, diferente das esculturas, não chegamos ao gesto a partir do nada; mesmo quando mantemos nossos corpos parados estamos aplicando esforços para ficarmos em tal situação.
Pode-se ter uma leve noção das respostas às duas primeiras indagações em destaque.
Um gesto, mesmo que aparentemente estático, carrega consigo a idéia do movimento efetuado pelo gesticulador antes da concretização do gesto.
Deixando o plano metafísico, atente-se para as variações dignas de serem consideradas gestos:

-A linguagem verbal (e não somente a não verbal como muitos pensam) juntamente com as entonações da voz produzidas pelas mudanças no tracto vocal em meio ao vibrar ou não das cordas vocais.
-A escrita que codifica infinitos pensamentos passives de serem decodificados pelo leitor, além de evidenciar aspectos da personalidade do próprio escritor. Cabe lembrar que mesmo uma escrita, quando analisada por um grafólogo, não é considerada um ato paralisado, pois se estuda o gênero Movimento e Velocidade com os quais a escrita foi desenvolvida.
-O suspiro, indicativo de angústias, intoxicações e outras muitas razões.
-O sonhar, os movimentos que esta ação executa nos músculos oculares (durante o sono REM e as mudanças de estágios) e outras pequenas contrações musculares.
-Alterações corporais causadas por aparelhos hospitalares como a Eletroconvulsoterapia, o Eletrocardiograma e eletroencefalograma que, grosso modo, lêem as mensagens do coração e cérebro respectivamente. O que vem nos alertar também sobre o caráter involuntário de alguns gestos (microgestos).
-O mamilo humano também pode ser entendido como um gesto ao estar rijo ou não.
-Muitas doenças e síndromes provocam alterações motores, como o AVC e a síndrome de Tourette.

E quanto a terceira resposta? Sugestões?! Lanço um desafio.

 (...)



Alguém citou os olhos...
Olhos?!
Já disseram que os olhos são o espelho da alma, as janelas da alma. De fato, o olhar de um indivíduo pode delatá-lo enquanto mentiroso. O olhar (ou a falta dele) pode levar um homem ou uma mulher a se declarar romanticamente ao outro(a) sem a intenção de fazê-lo.
O escritor Conan Doyle, num misto de realidade e ficção, descreveu com argúcia uma passagem em que seu personagem Sherlock Holmes “descobria” toda a cadeia de pensamentos gradativos oriundos da mente de Watson apenas seguindo as direções dos olhos deste último. Mais que provável. Isto é possível para além dos campos da literatura.



Em si considerando os movimentos oculares como gestos - o que já levaria muitos pesquisadores à discordância - poder-se-ia pecar por não se considerar outras partes do corpo que realizam uma maior diversidade de gestos e não somente um tanto de movimentos que se repetem frequentemente.  
Aos olhos dou, portanto, o título daqueles que são os mais verdadeiros gestos comunicadores do corpo humano, os mais difíceis de serem disfarçados. Capazes de persuadir, dissuadir, enganar, dominar e coibir, tanto o que olha quanto o que é olhado.
Ainda não são os olhos que realizam o maior número de gesticulações possíveis.




Alguém me chamou a atenção para o importante papel da boca,
A boca?!
A boca realiza inúmeros gestos diferentes; a começar pelo sorriso. Os risos, os sorrisos diferem entre os sujeitos. Nenhum sorriso é igual ao outro (nem mesmo os de gêmeos quando observados mais atentamente). Estes gestos se fazem de formas diversas também num mesmo sujeito.
Muitos pesquisadores subestimam a importância da boca, dos lábios. O que não é vantajoso.
Observando o homúnculo da figura que idealiza as correlações existentes entre as partes do corpo e as respectivas representações topográficas nos hemisférios cerebrais, percebe-se que as áreas corticais são maiores quanto mais “finos” são os movimentos que a região anatômica realiza. Assim, analogamente, a fineza dos gestos pode se mostrar mais bem elaborada em si tratando da face, boca, língua e mãos.
Tem-se registro da grande variedade de línguas faladas em tantas regiões do planeta. Cada som produzido é modificado também pela boca e de acordo com os seus gestos, os quais possuem discretas diferenças.
Juntos, boca, língua, lábios, olhos, em suma, face, somariam gestos suficientes que dariam ao rosto o lugar de maior destaque no campo das gesticulações. Entretanto, assim, não se consideraria apenas uma parte do corpo bem definida. Atestar-se-ia no mínimo a competência interdisciplinar de um conjunto de partes que trabalham rítmica e coordenadamente (no mais das vezes) sobre o comando de um órgão maior: o cérebro.