Alguns autores se atentam em demasiado para movimentos instáveis do corpo humano. Dizem que a forma como uma pessoa caminha “representará um traço estável de sua personalidade”. (Casal Pease). Mas como apontar todo um traço por meio de um andar? Isso seria admitir que esse mesmo sujeito que anda, caminha desta mesma forma sempre. Esse pode parecer um detalhe bobo, mas não o é. Um sujeito cansado pode estar andando devagar e ter os ombros caídos, o que não quer dizer que ele não preza pela objetividade em suas aspirações, pois seu cansaço é efêmero; já um sujeito com medo pode caminhar velozmente, contudo, isso não significa que este seja o andar habitual dele, então por que entendê-lo como um sujeito vigoroso e ávido por conquistas?
Quando não se atenta aos detalhes que a linguagem corporal do outro pode nos oferecer, tornamo-nos incapazes de contextualizar nossas observações e erramos em nossas interpretações.
Mesmo quando se observa bem, podemos incorrer em erros assombrosos. A personalidade de outra pessoa não se revela aos nossos olhos e não se revelará jamais em sua totalidade, podemos descobrir sim, traços de seus comportamentos, as inclinações as quais estão sujeitas suas condutas, mas nunca (e muito menos num relancear de olhos) aspectos holísticos de sua integridade psíquica.
Em muitos casos serão necessárias horas e até mesmos dias de observação meticulosa e – uma importante colocação – longe dos olhos do observado, pois este pode alterar involuntariamente ou não sua deambulação. Descrição é fundamental... Quando se observa aparentemente de maneira distraída é muito mais provável descobrirmos detalhes no emissor que não seriam revelados por ele mediante uma observação afetada (olhos petrificados em cima da outra pessoa).
De volta a minha frase inicial dessa postagem, sinto que não há nada que seja estável em nossa personalidade, em nossos modos de gesticular, andar, movimentar-se enfim, pois estamos a cada dia vivendo uma nova experiência e passando por novas situações e emoções distintas. Nenhum ser humano dorme do mesmo jeito que acorda... a nossa própria estrutura orgânica reage de mil maneiras diferentes (e isso não é um exemplo hiperbólico). As contrações do coração sofrem constantes variações, diante de emoções variadas ou não.
Os músculos reagem mesmo que não tenhamos consciência disso; executamos movimentos peristálticos que independem de nosso controle constante, enquanto realizamos muitas outras atividades simultaneamente. Pois bem, nada é estável na constituição humana e isso acontece primordialmente porque estamos sempre sofrendo evolução. (por mais inacreditável que essa sentença pode parecer, os acomodados também se incluem nela).