Não acredito que existam especialistas capazes de detectar a mentira. Essa é sem dúvidas uma frase ousada, mas calma, explico:
Para dizer que alguém está mentindo, é preciso que se esclareça o que é a verdade; de que se trata a mentira; se a verdade existe mesmo em substância e essência; se verdade e mentira podem “coexistir” numa mesma afirmação/expressão etc.
Eu não creio que a mentira possa ser “destilada” da verdade e vice-versa. Pensemos por exemplo nas mentiras brancas, isto é, aquelas contadas sem a intenção de causar danos prejudiciais a si mesmo e/ou ao outro. São aquelas mentiras diárias que se contam para não provocar o caos no mundo. Como, por exemplo, dizer ao cabeleireiro depressivo que seu corte ficou bom quando na verdade você detestou. Mas faz isso para não perder o amigo e conseqüentemente o desconto que ele oferece em seu salão. Esta não precisa ser considerada uma mentira no sentido lato do termo.
Segue uma das definições que mais respeito de Derrida em Estória da mentira. Diz ele que mentir seria “dirigir a outrem (pois não se mente senão ao outro) um ou mais de um enunciado cujo mentiroso sabe, em consciência explícita, temática, atual que eles formam asserções total ou parcialmente falsas”.
De fato para mentir, geralmente existe intenção de enganar, ainda que seja um engano brando e inócuo. (volto ao tema quanto ao auto-engano).
Faz-se mister que o sujeito que mente saiba que verdade ele precisa esconder para, diante disso, ou extirpar esta verdade e criar uma mentira, ou deformar essa verdade transformando-a numa mentira. Assim, é quase um mérito estóico demarcar os limites que separam a verdade da mentira.